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Open Banking, a fragmentação do sistema bancário e as oportunidades no mercado de crédito

No início desse ano, mais precisamente no dia 1º de fevereiro, o Banco Central do Brasil deu início ao processo de implementação do Open Banking, iniciativa que, segundo o presidente da entidade, Roberto Campos Neto, visa criar o “sistema financeiro do futuro”.

De forma gradual e dividida em fases, espera-se que tal implementação seja finalizada até a primeira quinzena de dezembro, estando, assim, totalmente operacional a partir do fim de 2021.

Passadas as duas primeiras etapas, no final de outubro o Open Banking entra na terceira fase, a qual permitirá a sua integração com formas de pagamento – começando pelo Pix – e o encaminhamento de propostas de operação de crédito entre instituições financeiras, atribuindo mais conveniência e flexibilidade aos consumidores e pessoas jurídicas em busca de empréstimos de qualidade com condições favoráveis.

Em discussão há pelo menos dois anos no Brasil, o processo de abertura de dados bancários de pessoas físicas e jurídicas promete revolucionar o mercado. Mas quais os verdadeiros benefícios que a nova sistemática traz para o mercado de crédito?

 

Fragmentação e foco no consumidor (PF e PJ)

 

Analisando o sistema financeiro brasileiro, é possível conjecturar que o Open Banking tem muito a contribuir com o mercado de crédito do país.

Por muitos e muitos anos, os grandes e tradicionais bancos eram os agentes que detinham, de forma exclusiva, informações de seus correntistas, e esse sempre foi um valioso ativo sob posse das principais instituições financeiras do país. Em contrapartida, um importante princípio do Open Banking – e que deve entrar em vigor já a partir da terceira fase da implementação do modelo –, é justamente a possibilidade de uma portabilidade simplificada de dados, a partir de total autonomia dos clientes do sistema financeiro brasileiro.

Ou seja: os consumidores (tanto empresas quanto pessoas físicas) poderão usufruir de maior autonomia no momento de suas decisões, seja para uma tomada de crédito, empréstimo, investimentos ou busca de qualquer outro produto ou serviço do sistema financeiro.

Consequentemente, tal cenário tende a aumentar a competitividade do setor bancário – sobretudo com o processo contínuo de fortalecimento das fintechs e de novos modelos de negócio que surgem no mercado – e a fragmentação de um setor que, desde sempre no Brasil, é reconhecido por ser excessivamente concentrado.

No âmbito do mercado de crédito, isso tende a se traduzir também em ofertas de novas linhas de crédito com condições mais favoráveis para as empresas e pessoas físicas, redução do spread bancário e simplificação de processos que podem trazer muito mais dinamismo para o mercado.  

De forma clara, tudo isso se liga, em parte, com os conceitos de Experiência do Cliente e Experiência do Usuário. Agora com os correntistas e seus respectivos dados no centro das atenções, os próprios bancos se veem em uma necessidade urgente de remodelar sua operação, abrindo-se a mudanças para manter sua relevância no mercado.

Uma amostra dos efeitos da digitalização e transformação do setor têm sido os numerosos fechamentos de agências bancárias no Brasil, o que também é reflexo de menores orçamentos das instituições, que já são impactadas pela fragmentação do sistema.

De acordo com informações de uma reportagem do UOL, em um ano, Banco do Brasil, Bradesco, Itaú e Santander – quatro dos cinco maiores do país – fecharam mais de 1600 agências físicas no Brasil, conforme dados presentes nos balanços dessas empresas relativos ao segundo trimestre de 2021.

 

Oxigenando o ambiente

 

Em outras palavras: os maiores beneficiados pelo Open Banking são as pessoas, sejam elas físicas ou jurídicas.

Isso porque, a partir de um compartilhamento consentido de informações bancárias e outras relativas a consumo de serviços financeiros por parte do cliente, pode-se criar um atendimento muito mais personalizado, coerente com as condições e possibilidades do cliente.

Uma das principais operações que pode ser facilitada pela portabilidade de dados e interoperabilidade de sistemas possibilitadas pelo Open Banking é a tomada de crédito – inclusive nos segmentos de pequenas e médias empresas, os quais foram muito impactados pela crise pela qual passa o país.

Com a posse de mais informações a serem analisadas e maior número de players no segmento, o volume de crédito disponível tende a aumentar, sob melhores condições para os tomadores e baseadas em seu próprio comportamento no sistema – tal análise, por sua vez, será ainda mais transparente no mercado de crédito. Tudo isso contribui para a democratização do acesso ao crédito.

Mas as oportunidades não param por aí. A relação entre instituições financeiras e correntistas, pode-se dizer, passará a ser construída de forma mútua. Se, por um lado, os clientes compartilham seus dados com a expectativa de que isso resulte em serviços mais convenientes e que representem suas necessidades, por outro, as fintechs, bancos tradicionais e outras empresas financeiras – que passarão a ter acesso, de forma consentida, aos dados dos clientes – podem criar novos produtos e serviços, obedecendo a demandas que possam surgir, adentrando nichos até então pouco explorados.

Ademais, no contexto do crédito e de outros produtos financeiros, abre-se cada vez mais espaço para empresas que mapeiam as oportunidades dentro de um sistema que, como vimos, com o avanço do Open Banking, tende a se fragmentar cada vez mais. Além de identificar tais produtos – como linhas de crédito vantajosas e que se adequam ao perfil de uma empresa, por exemplo – tais companhias realizam a intermediação entre seus clientes, bancos e fintechs, favorecendo a geração de negócios no mercado.

Portanto, com o Open Banking entrando em novas fases e se estabelecendo, abre-se um amplo cenário de novas oportunidades a serem aproveitadas pelos agentes do sistema financeiro brasileiro. Oportunidades essas que colocam, sem dúvidas, o cliente em primeiro lugar!