O crédito empresarial exerce um papel fundamental para o desenvolvimento do ambiente de negócios de um país. Por meio deste processo, organizações de todos os portes podem investir em suas estratégias de expansão, fortalecer suas equipes, impulsionar movimentos de digitalização, de aquisição de maquinário e, inclusive, reforçar seus caixas, se preparando para eventuais intempéries do mercado ou momentos de maior demanda de capital de giro.
Dito isso, analisando o cenário geral do crédito no Brasil, é inegável que negócios de pequeno porte enfrentam uma dificuldade considerável em ter acesso a empréstimos de qualidade e com condições que se adequem ao perfil financeiro da empresa. Sobre esse ponto, um estudo recente da Fundação Getúlio Vargas (FGV), apontou que a demanda por crédito dos Micro e Pequenos Negócios superou a oferta de disponível nos bancos em R$ 166 bi ao longo de 2021.
O estudo ressaltou ainda que a entrada de fintechs no sistema financeiro brasileiro com ofertas de linhas de crédito compatíveis com a realidade das pequenas empresas, embora seja um norte interessante de transformação do mercado, ainda não responde a alta demanda por crédito das MPEs.
Tal realidade é especialmente alarmante no Brasil. Em palestra recente na LOARA, por exemplo, o professor da Universidade de São Paulo e da FIA, Paulo Feldmann, destacou que mesmo com os incentivos governamentais e com a consolidação do PRONAMPE, os grandes bancos ainda têm resistência em liberar linhas de crédito para as pequenas empresas. Em parte, esse contexto se explica pela dificuldade das MPEs em apresentar garantias de alta liquidez ou mesmo por possuírem um baixo score de crédito, dentre outros pontos, o fato é que as organizações financeiras atribuem um potencial para a tomada de crédito das MPEs.
Em outras palavras, estamos falando de um ambiente desafiador e que se retroalimenta. Sem capital para poderem investir em crescimento e robustez financeira, os pequenos negócios acabam por limitar suas ambições de longo prazo e permanecem em uma faixa de mercado que não atraem o interesse dos grandes bancos.
Mas esse é um panorama que precisa ser transformado. Afinal de contas, estamos falando de um volume de empresas que, segundo dados da Secretaria Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade do Ministério da Economia (Sepec/ME), correspondem a 99% de todos os empreendimentos do país, respondem por 30% de tudo que é produzido no Brasil e geram 55% dos empregos no território nacional.
Tal transformação cultural, por sua vez, pode ser conduzida a partir do conceito de intermediação de crédito e do trabalho de especialistas que, em conjunto com os pequenos negócios, poderão apoiá-los no processo de mapeamento de instituições bancárias, desenho de estratégias de negociação com os bancos e match de condições de pagamento das linhas de crédito (taxas, prazos e juros) que dialogam com o real perfil das MPEs.
Sem dúvidas, estamos falando de uma tendência que não será estruturada do dia para a noite, mas que deve avançar de modo expressivo ao longo dos próximos anos, sobretudo mediante o processo de fragmentação do sistema financeiro, que abre mais portas para que pequenas empresas usufruam dos benefícios que o crédito oferece.
Para tanto, é preciso que as empresas encarem o crédito como uma ferramenta de sustentabilidade financeira, evitando imediatismos e má gestão dos negócios. Necessitam abraçar oportunidades que, de fato, contribuam para o crescimento de suas organizações e que, como vimos, isso gera um ciclo virtuoso que é crucial para o desenvolvimento econômico do país.