O Brasil vive, inegavelmente, um cenário favorável de crescimento na oferta de crédito tanto as pessoas físicas, quanto jurídicas. Segundo o último levantamento do Banco Central divulgado em junho, por exemplo, o saldo de empréstimos concedidos pelas instituições financeiras deve se expandir em mais de 11% no âmbito geral e em 8% no segmento PJ.
Isso não significa afirmar, no entanto, que uma jornada de crédito não apresente desafios — sobretudo quando tratamos de linhas de empréstimo de qualidade e que favoreçam o equilíbrio financeiro das organizações. Sobre essa questão, aliás, recentemente lançamos uma pesquisa com o intuito de avaliar a maior dor do empresário no acesso ao crédito e, a partir do levantamento, foi possível constatar que as taxas de juros altas são a principal preocupação de 58% dos empresários.
Entender a visão dos gestores financeiros, líderes de negócios e empreendedores é um fator crucial para que possamos pensar em soluções que possam otimizar a relação entre bancos e clientes, e para permitir que o crédito se torne, de fato, uma ferramenta democratizada de crescimento para as companhias.
Dito isso, neste artigo, gostaria de lançar uma provocação: será que os juros são mesmo o principal obstáculo dentro do universo do crédito empresarial? A partir de minha experiência de mais de 25 anos no sistema financeiro atuando, sobretudo, com a intermediação de empréstimos, posso afirmar que, embora os juros sejam um elemento determinante na equação do acesso ao crédito, eles são apenas uma parte do desafio e nem sempre a questão principal.
Para esse cálculo, temos de considerar, ao menos, 4 fatores centrais:
O volume do crédito oferecido: o ideal é que o empresário consiga um empréstimo que atenda a total necessidade de crédito de sua empresa, de modo que não tenha de trabalhar com “operações picadas” que dificultarão seu gerenciamento financeiro e fluxo de caixa;
Os prazos de pagamento: o empresário precisa de uma parcela que “caiba no seu bolso”, de modo que não tenha de acessar outros produtos bancários para cumprir com seus pagamentos (cheque especial, desconto de recebíveis, conta garantida etc.) e assim, correr um sério risco de desequilibrar suas finanças. E, a depender do volume de crédito, isso só é possível com prazos mais amplos;
As garantias: por mais que a empresa esteja com as contas organizadas e, em tese, apta a acessar um crédito de qualidade, isso só será possível com garantias que possuam uma boa margem de liquidez, sempre com o menor índice de garantia possível;
Taxas de juros: e sim, as taxas de juros são também um ponto importante. Se muito elevadas, elas irão minar a margem de lucro do negócio e, na prática, inviabilizar a efetividade do crédito para a empresa.
Ou seja: na prática, o maior desafio do crédito é equilibrar esses fatores em uma equação favorável ao empresário que garanta boas condições em termos de volume, taxas, prazos e garantias. A união desses elementos, consequentemente, é o que podemos denominar de crédito de qualidade.
Sem dúvidas, para algumas empresas, um desses pontos pode ser mais desafiante na formação da “equação perfeita do crédito”. Se uma companhia, por exemplo, consegue a disponibilização de um empréstimo de 1 milhão em 12 parcelas de 100 mil, mas seu potencial de pagamento mensal é de 40 mil, estamos diante de uma situação em que o prazo será um fator mais determinante.
Seguindo a mesma linha de raciocínio, caso a companhia não disponha de muitas garantias com boa margem de liquidez, o desafio será encontrar um banco que ofereça linhas interessantes para o seu perfil de negócio.
E esse fit entre o banco e o perfil financeiro de uma companhia, conforme já reforcei em outros artigos, só se constrói com muito planejamento, pesquisa e, em um cenário ideal, com o suporte de especialistas capazes de mapear um leque amplo de instituições financeiras em prol de um empréstimo empresarial de qualidade.
Em resumo, os juros são sim um desafio significativo do empresário no acesso ao crédito. Mas ele não é o único e nem sempre será o maior obstáculo. Para terem sucesso, as organizações precisam enxergar a negociação e busca por empréstimos de modo holístico e traçar uma jornada em que cada passo é decisivo para a conquista do crédito de qualidade!